Apple e a polêmica de taxar usuários em PIX e compras online

A Apple está no centro de uma polêmica que tem chamado a atenção de consumidores, autoridades reguladoras e instituições financeiras no Brasil. Em outras palavras, a empresa estadunidense, famosa por seu ecossistema fechado e produtos de alto padrão, está sendo investigada por supostamente limitar o acesso ao recurso de pagamento por aproximação (NFC) em seus dispositivos. 

Dessa forma, a controvérsia ganhou força com a denúncia de que a marca estaria, na prática, dificultando o uso do PIX (sistema de pagamento instantâneo brasileiro) por aproximação em iPhones. Ao mesmo tempo, acusa-se a mesma ela está sendo acusada de impor taxas sobre transações digitais realizadas por meio de sua própria plataforma de pagamento.

Logo, neste artigo, iremos entender a polêmica que envolve a Apple e a taxação de transações online e também os argumentos da empresa em tal contexto. Além disso, elencaremos possíveis consequências dele, bem como refletiremos sobre possíveis soluções para o mesmo. Por fim, iremos listar algumas lições sobre a situação.

Entenda a polêmica que envolve a Apple e a taxação de transações online

A origem da controvérsia remonta a abril, quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) iniciou uma investigação formal contra a Apple. O órgão antitruste brasileiro quer saber se a empresa está praticando conduta anticoncorrencial ao impedir que carteiras digitais de terceiros utilizem a tecnologia NFC presente nos iPhones. 

Essa tecnologia é essencial para realizar pagamentos por aproximação, como por exemplo o PIX por NFC, e é amplamente utilizada em dispositivos Android, onde está disponível para diferentes carteiras digitais.

De acordo com o Cade, a Apple impõe restrições técnicas e comerciais que dificultam ou mesmo impossibilitam que outros aplicativos, além do Apple Pay, acessem a tecnologia NFC nos dispositivos da marca. Isso significaria, na prática, um monopólio da Apple sobre os pagamentos por aproximação nos iPhones.

NFC e a exclusividade do Apple Pay

Nos celulares Android, a tecnologia NFC é aberta e pode ser utilizada por qualquer aplicativo devidamente autorizado. Já no ecossistema da Apple, o NFC é exclusivo do Apple Pay, impedindo que outras instituições financeiras ofereçam o PIX por aproximação, mesmo que estejam tecnicamente aptas para isso.

O argumento do Cade é que essa limitação não apenas cria uma barreira para a inovação, mas também prejudica a concorrência e, em última instância, o consumidor. Afinal, enquanto o PIX é gratuito para pessoas físicas e amplamente aceito no Brasil, o Apple Pay opera com taxas embutidas. Isso é algo que, em muitos casos, pode significar custos adicionais para o usuário ou para as instituições financeiras.

Os argumentos da Apple em relação a essa polêmica

A Apple se defende das acusações, alegando que seu sistema de pagamentos é seguro, eficiente e que está aberto para desenvolvedores brasileiros desde 2018. Em outras palavras, segundo a empresa, mais de 40 bancos e instituições financeiras já estão integrados ao Apple Pay. Isso é algo que seria uma evidência de que não há bloqueio ou prática anticoncorrencial.

Em conjunto a isso, a companhia afirma que qualquer desenvolvedor aprovado e estabelecido no Brasil pode solicitar o acesso ao NFC, desde que siga os termos justos e consistentes estabelecidos pela empresa. De acordo com a Apple, essas diretrizes visam garantir a privacidade e segurança dos usuários, elementos que fazem parte do seu modelo de negócios desde o início.

A cobrança de taxas é legal, segundo a Apple

Outro ponto levantado pela defesa da Apple é que não há nenhuma lei brasileira que proíba a empresa de cobrar taxas por seus serviços. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Apple cobra 0,15% por cada transação realizada com cartão de crédito via Apple Pay. Esse é um modelo que a empresa tenta replicar em outros mercados, inclusive o brasileiro.

Porém, o problema é que nenhum banco brasileiro habilitou o PIX por aproximação no iPhone, justamente por causa dessas taxas. Na prática, isso faz com que o recurso esteja disponível apenas para usuários de Android, criando um desequilíbrio que motivou a intervenção do Cade.

A participação da Apple no mercado brasileiro

A Apple também ressalta que os iPhones representam apenas 10% do mercado brasileiro de smartphones. Tal número é algo que, segundo a empresa, elimina qualquer possibilidade de monopólio. 

Mesmo assim, o Cade argumenta que os consumidores da Apple geralmente têm maior poder aquisitivo. Ou seja, isso dá à marca uma influência desproporcional no mercado de pagamentos digitais, especialmente entre clientes de fintechs e bancos digitais.

Em sua resposta oficial ao Cade, a empresa afirmou: “Não há evidências de qualquer dano aos serviços de pagamento com aparelhos móveis no Brasil ou aos consumidores brasileiros”.

Possíveis consequências dessa polêmica da Apple

Mercado e consumidores podem ser prejudicados

A exclusividade do Apple Pay para pagamentos por aproximação em iPhones pode ter efeitos significativos sobre o mercado e os consumidores. Um dos maiores impactos é a limitação da liberdade de escolha do usuário, que fica restrito ao uso da plataforma, mesmo existindo alternativas gratuitas e amplamente adotadas, como o PIX.

Fontes do mercado financeiro afirmam que ninguém quer pagar por algo que poderia ser gratuito. Como o PIX é gratuito para pessoas físicas, qualquer cobrança extra relacionada ao uso da tecnologia por aproximação pode ser vista como injustificada. Juntamente com isso, tende a ser repassada ao consumidor final ou absorvida pelos bancos, afetando suas margens de lucro.

Apenas o Google implementou o PIX por aproximação

Atualmente, somente o Google solicitou autorização ao Banco Central para implementar o PIX por aproximação em seu sistema operacional. O BC, por sua vez, afirma que a função é opcional e está aberta a todas as instituições interessadas. No entanto, o fato de apenas a Apple não permitir esse tipo de integração levanta suspeitas sobre sua estratégia comercial.

Por outro lado, a Apple se defende dizendo que seu modelo é diferenciado pela segurança e privacidade. Mas os críticos argumentam que essa justificativa pode estar sendo usada para proteger sua própria receita, baseada na cobrança de taxas sobre as transações realizadas em seu ecossistema fechado.

O argumento da Apple para taxar o PIX e as compras online no Brasil se baseia em fatores de segurança.
O argumento da Apple para taxar o PIX e as compras online no Brasil se baseia em fatores de segurança. | Foto: DALL-E 3

Como essa polêmica da Apple pode ser resolvida?

Uma das soluções mais discutidas entre especialistas é a intervenção regulatória do Banco Central e do Cade. Em outras palavras, esses órgãos podem obrigar a Apple a abrir o acesso ao NFC para outras carteiras digitais. Isso promoveria maior concorrência e beneficiaria os consumidores com mais opções de pagamento.

Paralelamente, outra possibilidade seria a negociação direta da Apple com as instituições financeiras do Brasil com o intuito de encontrar um modelo de cobrança mais alinhado com o mercado brasileiro, onde a gratuidade do PIX é um valor já consolidado.

Pressão pública e ações judiciais

Além da regulação formal, a pressão da opinião pública e possíveis ações judiciais movidas por concorrentes ou entidades de defesa do consumidor podem acelerar mudanças. Sendo assim, à medida que mais usuários se informam sobre o assunto, cresce a demanda por transparência e equidade nos serviços oferecidos pelas big techs.

Lições a aprender com a polêmica da Apple

Equilíbrio entre inovação e concorrência

O caso da Apple mostra como a inovação tecnológica precisa andar lado a lado com práticas comerciais justas e concorrência saudável. A empresa é reconhecida mundialmente por sua capacidade de integrar hardware e software com excelência, mas essa força não pode ser usada para restringir o acesso a tecnologias que já são padrão no mercado, como o NFC.

Importância da regulação proativa

Outra lição importante é a necessidade de regulação proativa em mercados digitais, especialmente quando se trata de gigantes como Apple, Google e Amazon. Nesse sentido, o avanço tecnológico é veloz, e muitas vezes a legislação não acompanha esse ritmo. Cabe aos órgãos como o Cade e o Banco Central antecipar cenários e garantir que as regras do jogo sejam claras, equilibradas e voltadas para o interesse coletivo.

A voz do consumidor tem poder

Finalmente, a polêmica também mostra que a voz do consumidor importa. A pressão exercida por usuários, imprensa e entidades da sociedade civil pode levar empresas globais a reverem suas políticas e se adaptarem às realidades locais. No caso do Brasil, onde o PIX se tornou um sucesso e um símbolo de democratização financeira, é fundamental que todas as plataformas permitam seu uso irrestrito, sem custos adicionais.

Em resumo, a polêmica envolvendo a Apple e a taxação de transações com PIX e compras online levanta discussões fundamentais sobre concorrência, inovação, acessibilidade e justiça comercial. Desse modo, em um país onde o PIX se consolidou como o principal meio de pagamento digital, qualquer barreira ao seu uso pode ser interpretada como um retrocesso. 

Portanto, a expectativa é que a Apple, como líder global em tecnologia, encontre formas de se adaptar ao mercado brasileiro. Com isso, poderá equilibrar sua busca por lucro com a demanda dos consumidores por liberdade e gratuidade nos serviços.

Quer saber mais sobre como a Apple pode mudar sua relação com o mercado brasileiro? Acompanhe as atualizações dessa polêmica e entenda o impacto da empresa no sistema de pagamentos digitais no Brasil.

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